A musicalização faz bem pra todo mundo! Aqui a colunista Ivelise Giarolla fala sobre as aulas de sua filha Lorena
Desde pequena eu e meus irmãos sempre fomos incentivados pelos meus
pais a tocar algum instrumento musical. Em casa era comum um filho, em
algum cômodo, dedilhando notas. Não somente tocar, mas ouvir uma boa
música era algo corriqueiro. Lembro-me perfeitamente da minha mãe
escutando música clássica corrigindo suas provas da escola onde
lecionava e eu “dançando ballet” na sala. Bem como me lembro do rádio do
carro ligado na extinta “Escala FM” e nós literalmente “curtindo o som”
como se fosse uma galinha pintadinha.
Mas minha vida tomou outro
rumo e não enveredei para a carreira musical. No entanto, o conceito da
musicalidade plantado pelos meus pais foi forte o suficiente para me
acompanhar até hoje.
Minhas filhas nasceram e sempre tive vontade
de dar uma formação musical a elas. Fui feliz na minha infância fazendo
as aulas de música e hoje tenho plena convicção que contribuíram no meu
crescimento interior. Todavia, quando nasceu Lorena, que tem síndrome de
Down, percebi que a música seria ainda mais importante, por toda a
estimulação que esta arte proporcionaria a ela.
Pois bem, Lorena
então aos onze meses e Marina aos três anos devidamente matriculadas na
musicalização infantil e, hoje, a constatação óbvia: amor absoluto pelas
aulas, pelo ritmo, pela dança e pelo convívio com outras crianças.
Quarenta e cinco minutos de sorrisos no rosto garantidos e todo um
interesse da música levado para casa, no dia a dia.
Muitas pessoas
me perguntam sobre as aulas das meninas, assim solicitei para que a
professora de música delas, a doce e querida Clara Prado, escrevesse um
pouco sobre a musicalização infantil, em especial sobre a experiência em
dar aulas para a Lorena.
Segue o texto:
“Não é difícil
escrever sobre a pequena grande Lorena. Quando Ivelise a matriculou,
fiquei muito feliz em saber que teríamos no grupo uma criança com
Síndrome de Down. Feliz, por poder participar de alguma forma da sua
formação musical e por podermos, em uma aula de música, experimentarmos
as dificuldades e belezas da vida nas diferenças.
A música é uma
grande auxiliadora no crescimento de qualquer ser humano. Nos primeiros
anos de vida, ajuda no desenvolvimento da coordenação motora, aguça a
sensibilidade auditiva, estimula a sociabilidade, o contato com diversos
instrumentos e estilos musicais e principalmente o vínculo afetivo
entre a mãe (ou acompanhante) e o bebê, já que nesta fase a presença de
um acompanhante é não só indispensável, mas fundamental, fazendo parte
de sua responsabilidade aprender as músicas, cantar em casa e nas aulas,
para assim estimular cada vez mais esse laço musical que se inicia.
Como
vivemos numa sociedade que vive atrás de um rótulo de ‘normalidade’, é
dado que as pessoas com Síndrome de Down tenham um desenvolvimento mais
lento. A Lorena, no entanto, me surpreende a cada dia. Desde o começo
me comovo com sua concentração plena nos 45 minutos da aula. É
impressionante sua reação a cada música, a cada atividade que repetimos
toda semana. Hoje, posso dizer que a Lorena alcançou objetivos que
algumas das crianças sem deficiências da turma ainda não alcançaram e o
seu desenvolvimento caminha com fluência no movimento do seu próprio
tempo. É um grande prazer participar e acompanhar suas conquistas ao
longo da vida, através desta maravilhosa arte que é a música.
Essa grande pequena ainda vai longe!”
Agradeço
a professora Clara por todo carinho que tem com as crianças e
parabenizo seu trabalho de plantar essa semente tão importante na vida
desses pequenos grandes músicos.